SABESP devolve água para o Cantareira depois de obra de transposição

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Sabesp ‘devolve’ água para o Cantareira depois de obra de transposição bombear em sentido contrário

Foram 35 milhões de litros tirados ‘para testar novos equipamentos’ e ficar armazenados na represa Jaguari. Maior reservatório da região metropolitana está em estado de alerta há onze dias.


Por Bárbara Muniz Vieira, G1 SP, São Paulo

 

Interligação das represas do Jaguari e Atibainha (Foto: Fábio França/G1)Interligação das represas do Jaguari e Atibainha (Foto: Fábio França/G1)

Interligação das represas do Jaguari e Atibainha (Foto: Fábio França/G1)

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) está “devolvendo” água que o Sistema Cantareira mandou para o Rio Jaguari em abril deste ano.

De acordo com a Sabesp, 12.200 litros por segundo passaram a sair do Cantareira no dia 6 de abril durante “alguns dias de abril, para testar os novos equipamentos” para ficar armazenada na represa Jaguari, cuja operação é determinada pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) com o objetivo de produzir energia.

A Companhia informou que o volume transferido para o Paraíba do Sul foi de 35 milhões de litros. O total bombeado em direção ao Cantareira até agora é de 58,2 bilhões de litros.

O Sistema Cantareira, que operava com 39,9% de seu volume nesta quinta-feira (9), está em estado de alerta há 11 dias.

“Neste momento, a água está sendo enviada somente sentido Cantareira. A interligação tem capacidade para enviar até 162 bilhões de litros de água por ano (sentido Cantareira) – volume equivalente a uma represa Guarapiranga cheia”, informou a Sabesp.

De acordo com o professora da USP Pedro Luiz Côrtes, a medida contribuiu para reduzir o nível de água do sistema, que agora opera em estado de alerta.

“Está mais baixo do que seria esperado para esta época do ano, especialmente considerando que o prognóstico climático não é dos mais favoráveis até meados deste semestre”, salientou.

Segundo a Sabesp, a obra de transposição que passou a permitir a transferência de água da represa Atibainha (que abastece o Sistema Cantareira) para o Jaguari (bacia do Paraíba do Sul) custou R$ 555 milhões e tinha como objetivo beneficiar 39 milhões de pessoas na Grande São Paulo, Região Metropolitana de Campinas, Vale do Paraíba e o estado do Rio de Janeiro, incluindo a capital fluminense.

A operação no sentido contrário, de até 5.130 litros por segundo para o Sistema Cantareira, foi inaugurada no início de março.

A Sabesp informa, porém, que vem economizando água do Cantareira. Nos últimos 13 meses, a Companhia diz ter poupado 25% da capacidade do sistema ao usar menos água do que poderia. Se a Sabesp não tivesse adotado essa medida, o Cantareira hoje estaria com 15% da capacidade, não com pouco mais de 40%.

Prevenção de crises

A Sabesp considera índices históricos de pluviometria para traçar cenários de enfrentamento para períodos secos.

“Trata-se de uma análise técnica diária por meio da qual é possível tomar decisões como ampliar ou diminuir transferência de água entre represas ou até mudar o sistema que abastece uma região para poupar um sistema que estiver em situação pior. Exemplo disso é a Mooca, que pode receber água de até 4 sistemas distintos.”

De acordo com Côrtes, dados históricos são importantes, mas é necessário olhar também para os prognósticos futuros e verificar as alterações previstas.

“No planejamento, eles administram olhando o passado do clima, apenas. Imaginam que o que aconteceu no passado vai se reproduzir no futuro, mesmo em um cenário de mudanças climáticas”, diz o professor.

Um fenômeno que precisa ser considerado, na opinião de Côrtes, é a possibilidade de um novo El Niño (fenômeno atmosférico-oceânico que altera o clima, mudando os padrões de vento e afetando os regimes de chuva em regiões tropicais e de latitudes médias).

“Isso pode fazer com que chuvas no Sudeste aumentem, mas ele também pode ser de baixa intensidade e não ser o suficiente para mudar esse panorama (de seca). Em paralelo podemos ter um aumento de temperatura, o que faz com que o consumo de água aumente.”

A Sabesp informou que considera, sim, previsões climáticas. “Acompanhamos o prognóstico do Cptec/Inpe, que diz que ‘a região Sudeste não apresenta previsibilidade para esse trimestre [julho a setembro de 2018], e desse modo não há como dizer se a precipitação estará acima, abaixo ou dentro da normal climatológica’. Consultamos também o International Research Institute for Climate and Society (Columbia University), que publicou informe de que esse mesmo período ‘apresenta variabilidade de chuva negativa para a região Sudeste’.”

 

 

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